A carta de apresentação, também conhecida por carta de motivação, é a primeira oportunidade de contacto com a empresa e pode significar a primeira entrevista. 

Criar uma carta eficaz é o grande desafio e não há uma receita que sirva a todos. Entre os especialistas há conselhos contraditórios e é sempre difícil saber por onde começar e qual a linguagem a utilizar. 

Não se aplicando a máxima de one size fits all há, no entanto, cuidados a ter e abordagens que se podem propor. Aqui pretendemos dar-lhe dicas para o ajudar a construir a sua própria carta de apresentação. Para começar, e em linhas muito gerais, aconselhamo-lo a preparar-se para os desafios que esta carta representa:

  • a introdução das primeiras linhas, que terá que ser capaz de prender a atenção do recrutador;
  • a fundamentação, onde evidenciará que as suas skills e experiência encaixam na futura função e que constituem a verdadeira mais-valia para a empresa;
  • a conclusão que, juntamente com os tópicos anteriores, deverá deixar o recrutador com curiosidade suficiente para ler o seu CV.

A carta de apresentação estará no “topo” do seu processo de candidatura (daí o termo “cover letter”) que incluirá também o curriculum vitae, cartas de recomendação e comprovativos, por exemplo, de formação académica.

Ela deve ser adaptada à função e à empresa e captar o interesse do recrutador desde o início. A sua candidatura é uma entre dezenas ou centenas de outras. Descurar a sua importância pode significar uma oportunidade perdida.

Não esqueça que está a fazer a sua própria promoção, ou o marketing do seu perfil, e quanto melhor "vender o seu produto” maiores as probabilidades de vir a ser contactado. Prepare uma mensagem de marketing confiante, credível, mas não arrogante.

Seja rigoroso, genuíno, apelativo e focado no objetivo de conseguir o trabalho. Mostre entusiasmo pela função que quer para si. Pode ter um curriculum excelente mas se não mostrar entusiasmo pelo trabalho, dificilmente será selecionado.

Carta personalizada

Uma carta de apresentação não deve ser um modelo único criado para acompanhar todas as candidaturas a emprego. Ela deve ser adaptada à empresa e à função a que se candidata.

Desta forma, será mais assertivo na proposta de valor que propõe, aumentando as hipóteses de ser chamado para uma entrevista. A personalização deve estar presente:

  • no seu perfil: do que melhor o carateriza, destaque o que tem mais relevo para a função a que se candidata e que melhor se encaixa na cultura da empresa;
  • na sua experiência e competências profissionais: transponha aquelas em que acredita ser uma mais-valia para a empresa, distinguindo-o dos demais candidatos.

A carta personalizada exige, por isso, preparação e conhecimento sobre a instituição, mas em troca pode colocá-lo numa posição de vantagem, dando ao recrutador os elementos necessários para aferir dos reais benefícios de o contratar a si.

A importância da pesquisa sobre empresa

A pesquisa sobre a empresa vai permitir conhecer a sua cultura organizacional, a missão, o que faz, o setor e quais os seus concorrentes, o seu posicionamento, as estratégias em curso e os desafios que enfrenta. Pesquise no website, pesquise notícias e perfis LinkedIn dos colaboradores e da empresa.

Ao ter este conhecimento, poderá encaixar-se melhor, quer em termos pessoais, quer profissionais, dentro da realidade e da cultura da empresa. Isso vai ajudá-lo, desde logo, na abordagem a seguir. Por exemplo, se a empresa é jovem, criativa, informal (IT por exemplo) poderá arriscar mais na abordagem do que numa instituição mais conservadora, nomeadamente um banco.

Ao conhecer a empresa e o que ela faz podem surgir-lhe ideias concretas de como acrescentar valor em tarefas, projetos ou desafios futuros da empresa. Pode ainda integrar, na perfeição, aquele projeto onde já esteve envolvido, quantificando os objetivos alcançados. 

Concentre-se nos motivos pelo qual a empresa precisa de si e não nos motivos por que, você, precisa dela. Explore como pode ajudar a empresa e não como a empresa o pode ajudar a si.

Outra dica, que vale a pena tentar, é entrar em contacto via LinkedIn com alguém dos RH da empresa, colocando uma dúvida pertinente sobre a oferta ou o processo de candidatura.

Arrisca-se a não ter resposta, de todo o modo, se tiver sucesso, pode usar isso na introdução, agradecendo a ajuda no contacto que tiveram no dia x (é um "quebra gelo" que promove proximidade).

Comunicação irrepreensível

A comunicação é uma competência transversal a quase todas as funções, em quase todas as áreas. Use vocabulário que transmita claramente o interesse genuíno que tem na função e faça-o escrevendo corretamente:

  • português sem erros de construção gramatical e ortográficos;
  • linguagem clara e objetiva;
  • formatação leve, com tamanho e espaçamento de letra adequados a uma leitura agradável;
  • não uso de bold ou sublinhados;
  • não uso de clichés;
  • linguagem de proximidade, mas não informal;
  • mensagem genuína, confiante e entusiasta, mas credível;
  • não usando piadas ou tentando ser engraçado;
  • não ultrapassando os três ou quatro parágrafos (menos que uma página de leitura "at a glance").

Não perca uma boa oportunidade por questões deste tipo.

Uma carta virada para o futuro

Se um curriculum vitae é um resumo de tudo o que fez até aqui, uma carta de apresentação deve ser uma mensagem direcionada ao trabalho a que se candidata e, portanto, uma mensagem prospetiva. Não valerá a pena dizer exclusivamente o que fez no passado, isso já está no CV.

Adapte as suas competências passadas ao trabalho que quer fazer no futuro, estabelecendo pontes e explicando como pode capitalizá-las no novo trabalho, sendo a verdadeira mais-valia para a empresa. Se estiver a mudar de área de atividade, explore e promova as skills que são transferíveis para a nova função, exemplificando como as mesmas poderão ser aplicadas no futuro.

Inicie com impacto

As primeiras linhas da carta são decisivas. São as primeiras e aquelas que, inequivocamente, terão que envolver quem lê, despertando a necessária curiosidade e interesse para a ler até ao final.

Investigue o nome a quem dirigir a carta, evite "genéricos". Pesquise nas redes sociais e no LinkedIn o nome do responsável de recrutamento ou da área de recursos humanos da empresa a que se candidata. Não será difícil descobrir.

Depois, tipicamente recorre-se a "candidato-me à oferta de emprego/função x, publicada no local y". Se a sua carta é enviada, normalmente com uma referência específica associada à vaga, e é submetida através de plataformas online, a empresa saberá ao que se candidata e por onde "entrou". Ainda que seja por e-mail, tal informação continua a ser dispensável. Não desperdice linhas.

De uma forma original e com muito entusiamo, abra com impacto dizendo logo "ao que vem".

Faça sobressair uma forte motivação para a função dizendo o que faz e que procura uma oportunidade para aplicar as suas competências num novo projeto, e que adoraria/teria imenso gosto em juntar-se à equipa x com o seu track record e forte entusiasmo. Junte-lhe uma ou duas frases sobre o seu percurso e experiência relevantes, que fundamentem as competências e o expertise. Não copie o CV.

Seja direto, dizendo, por exemplo, permita-me que indique / indico-lhe as duas razões por que entendo ser uma mais-valia para a equipa de x / função x.

Faça brilhar as suas competências

Nesta fase, deve falar das características pessoais e profissionais que fazem de si a escolha certa. Em face da empresa e da função, deverão ser criteriosamente selecionadas as conquistas (quantificadas sempre que possível) que atestam as competências e a experiência para o cargo.

Voltando à importância do conhecimento da empresa, é aqui que pode referir que sabe o que a empresa faz e que conhece os seus desafios. Sugira a forma de os enfrentar recorrendo à sua experiência e competências. Diga como acrescentar valor em tarefas, projetos ou desafios futuros da empresa. Pode ainda encaixar, na perfeição, aquele projeto similar onde já esteve envolvido, dizendo que competências lhe permitiu desenvolver e quantificando os objetivos e resultados alcançados.

Não esqueça, como já referimos, faça pontes entre o seu passado (o seu CV) e o (novo) futuro. Exemplifique como se adapta e como aprende rapidamente, duas características altamente valorizadas, sobretudo no contexto atual. 

Caso não tenha experiência profissional, evidencie as matérias do seu curriculum académico, e respetivo aproveitamento, que sejam relevantes para a função em causa. Identifique todas as atividades extra-curriculares que desempenhou ou formações complementares à de base.

Mostre entusiasmo

Se não se sente completamente entusiasmado com a função ou a empresa, se este não é, na verdade, o seu emprego de sonho, não perca tempo a candidatar-se.

A sua excitação com o novo emprego tem que ser inequívoca. Não se iniba de dizer que adoraria trabalhar na empresa porque se identifica muito com... ou porque a empresa é x ou y (dinamismo, estratégia, nome, posicionamento, liderança, inovação, cultura de excelência, etc, etc).

Mas cuidado, moderação e equilíbrio são, como em tudo, a regra. Não se deixe cair no exagero soando a falso ou a desesperado pelo emprego. Seja equilibrado e profissional e não deixe que o exagero ou o tom errado comprometam as suas mensagens.

Reveja a sua carta e peça ajuda a um terceiro

Leia duas, três, quatro vezes, a sua carta. De cada vez que a ler, vai cortar e simplificar, afinal vai sempre encontrar passagens onde poderia ter sido mais sucinto e objetivo. 

O recrutador terá dezenas de cartas (ou centenas), possivelmente tem segundos para ler cada uma, ou melhor, para passar os olhos em cada uma. Por isso, dizemos que a carta tem que permitir reter a mensagem, se lida "at a glance", de relance, na diagonal. Se algo atrair o recrutador, alto! Vai lê-la com mais atenção. Eis a sua chance.

Dê o rascunho da carta a alguém para uma leitura distanciada. Peça-lhes para avaliarem se a mensagem que pretende passar, passa efetivamente, se conta uma história, se eventualmente está modesta demais, vaidosa, pretensiosa ou desesperada. Será uma opinião valiosa.

Termine com entusiasmo

Para rematar a sua carta deverá mostrar total disponibilidade para um futuro contacto, onde discutirá as suas qualificações e experiência, com maior detalhe, e sobre como poderá ser uma mais-valia para a empresa.

Mas como, na verdade, já todos sabem que estará disponível para um futuro contacto, poderá, em alternativa, fechar de um forma mais forte, reforçando o seu interesse em trabalhar naquela empresa e naquela função porque a empresa o impressiona em determinado sentido.

Por fim, assine a sua carta. Digite o seu nome, imprima e assine no espaço respetivo.

Resumindo: o que deve e o que não deve fazer numa carta de apresentação

A carta de apresentação não segue um modelo único, cada situação terá as suas especificidades, cada emprego, cada função, cada pessoa e a circunstância em que cada um se candidata. 

Consideramos, no entanto, que há pontos críticos a não descurar na elaboração de uma carta, e que são transversais a todas elas. Por isso, deixamos aqui os chamados do's and don'ts a considerar na sua carta de apresentação:

Do's

  • seja conciso e objetivo - o recrutador terá que ser capaz de ler a sua carta at a glance;
  • tenha uma mensagem que crie impacto, mostrando porque quer o lugar e o que tem para oferecer à empresa - concentre-se nas necessidades da empresa e não nas suas;
  • partilhe conquistas quantificadas, da sua experiência passada, que vão ao encontro das necessidades da empresa - não fique no passado do seu CV, estabeleça a "ponte" passado/futuro.

Don'ts

  • não use uma carta-tipo para todas as candidaturas;
  • não descure a comunicação irrepreensível;
  • não abuse dos lisongeios à empresa nem mostre desespero pelo lugar, seja equilibrado e profissional.

Agora consulte o artigo Cartas de apresentação: 12 exemplos e modelos prontos a usar que podem servir de inspiração para a sua carta.